MELTDOWN E SHUTDOWN NO AUTISMO
- Nayara Souza
- 26 de jul. de 2024
- 4 min de leitura

No dia a dia, é normal que cada um de nós passe por momentos de algum estresse. Porém, por conta de problemas com ansiedade e estímulos sensoriais, os autistas acabam vivendo níveis maiores de estresse. No caso de quem está no espectro do autismo, esses momentos hiper estressantes podem levá-los ao ponto da crise, ou seja, meltdown e shutdown.
o meltdown é quando a crise acontece para fora. Ou seja, é uma crise explosiva, facilmente reconhecível, com sinais claros de que o autista está incomodado. Meltdown é um colapso. No entanto, a crise também pode acontecer para dentro, silenciosa: o shutdown. Nesses casos, há um “desligamento” temporário.
Meltdown no autismo: colapsos nervosos
Os colapsos são, frequentemente, resultado de momentos e situações que enviam muitos estímulos a um autista. Além disso, esses estímulos podem criar níveis ainda maiores de ansiedade. A sensação de quem vive um meltdown é, justamente, de que é impossível escapar da sensação. Por isso, os autistas têm suas próprias formas de lutar contra isso, com reações diversas.
É muito comum, no entanto, que os colapsos aconteçam com acessos de raiva ou ataques de pânico bastante agressivos. E quando dizemos “raiva”, não é que esse momento deve ser entendido como birra, desobediência ou algo parecido. É apenas uma resposta do corpo, uma reação aos estímulos ruins.
Se uma pessoa tem, por exemplo, sensibilidade ao som de uma panela de pressão, provavelmente os pais desse autista vão evitar usá-la ou fazer isso quando a criança não estiver por perto. A lista, porém, é enorme: podem ser sons, luzes, cores, texturas ou uma mistura de tudo isso.
Shutdown: o “desligamento” do autista
Se o meltdown é uma resposta, digamos assim, de guerra e defesa, o shutdown no autismo é justamente o contrário. Um “apagão”, um “desligamento”, de fato.
O shutdown é como um computador tentando ligar, porém, sem a energia suficiente para fazer isso. O comportamento do autista passa a ser vazio, apresentando capacidade limitada ou nula de comunicação. Quando conseguem, enfim, colocar algumas palavras para fora, as frases podem sair sem sentido.
Como acontece o meltdown e o shutdown no autismo
Como dissemos anteriormente, tanto o meltdown como o shutdown no autismo acontecem em situações em que o estresse está altíssimo. É quando não existem mais meios práticos de o autista lidar com o que está acontecendo.
E nem sempre é algo rápido. O colapso e o desligamento podem ser resultados de um acúmulo de eventos estressantes. Muitas vezes, é algo que demora horas, dias e até semanas para acontecer.
Para o autista, que já tem que lidar com uma carga natural de estresse e ansiedade, quase não sobra espaço para que o cérebro lide com problemas adicionais. Por isso, ainda que o shutdown e o meltdown não sejam algo exclusivo de quem está no TEA, eles podem chegar lá de forma bem mais rápida que qualquer outra pessoa.
Gatilhos comuns para o desligamento e o colapso:
Acúmulo de demandas. Por exemplo, se ele precisar fazer, num período curto, coisas que sequer estejam relacionadas.
Mudanças bruscas de planos e/ou da rotina.
Sobrecarga sensorial e/ou social, por exemplo, exposição a situações sociais fora de casa, excesso de sons, proximidade a texturas, entre outros.
Necessidade de usar demais a memória e a atenção.
Como ajudar um autista durante o meltdown ou durante um shutdown
Apesar de serem bem diferentes, ambos são crises e precisam de suportes.
Suporte durante o meltdown
Uma das coisas mais importantes durante o suporte numa situação de meltdown é, sem dúvida, conhecer em detalhes a pessoa que está em crise.
Outra coisa importante é verificar se existe o risco de o autista se ferir ou ferir alguém. Tire de perto qualquer objeto que pode ser uma ameaça. Mas se isso não for possível, o ideal é, de fato, tirar a pessoa em crise do local. Às vezes, se a ocasião não oferecer absolutamente nenhum perigo, pode ser que deixar o autista passar pelo momento sem interferência seja o melhor.
Durante as crises, mantenha a calma e não faça perguntas demais. Também não deve adiantar muito dizer para a pessoa ficar calma. Em vez disso, dê orientações claras do que ele precisa fazer. Vá guiando com firmeza a criança para um relaxamento.
Suporte durante um shutdown
Durante um shutdown, algumas coisas não diferem das dicas para um meltdown. Ou seja, o essencial é ser alguém que conheça a situação do autista, seus hábitos, suas dificuldades, comorbidades, entre outras coisas.
Em geral, um shutdown não carrega nenhum perigo para as pessoas ao redor. No entanto, pode ser perigoso para a criança. Algumas, por exemplo, chegam a parar de respirar, se recusam a comer ou mesmo sair do lugar. Imagine o perigo se você está andando na rua e, do nada, a criança resolve deitar no asfalto. Pode parecer algo de fácil solução, mas dependendo do tamanho da criança e do adulto mais próximo, pode ser algo difícil de resolver.
Se não existe nenhum perigo, fique observando a criança enquanto dá um tempo para ela se recuperar. Tente chamar atenção com coisas que possam interessá-la e fazê-la se reconectar com a vida real.
É muito importante saber o que, de fato, causou aquilo. É bem provável que você ouça, de primeira, a resposta mais óbvia, sobre o gatilho final. No entanto, é preciso ir mais fundo para entender se houve ou não acúmulo de estímulos. Você também pode aproveitar o momento para descobrir se eles sabem definir o que pode ajudá-los em casos de crise. Afinal, isso pode voltar a acontecer dali um tempo.
Com o tempo, você vai começar a entender melhor, também, como diminuir riscos de acidentes, ferimentos e coisas piores. Se a criança, por exemplo, fica mordendo a própria mão, talvez ela precise de luvas para casos assim.
Porém, alguns autistas têm déficits maiores e comunicação limitada. Com elas pode ser um pouco mais difícil, mas não impossível. Você precisa dar ao autista todas as oportunidades possíveis para comunicar as necessidades. Algumas vão usar fotos, outras sinais, outras vão preferir usar eletrônicos, desenhos… enfim, cada uma de um jeito.
E não podemos ignorar que, de fato, uma crise assim pode causar uma série de situações problemáticas entre você, o autista e as pessoas ao redor. Com certa frequência nós ouvimos relatos de pais de como é difícil para os vizinhos entenderem os gritos, como é constrangedor se você está em um lugar público ou na casa de outra pessoa… e por aí vai.


Até a próxima!
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